sexta-feira, 29 de abril de 2011

O que é a Dislexia?

A Associação Internacional de Dislexia define dislexia como sendo uma dificuldade específica de aprendizagem, de origem neurobiológica. É caracterizada por dificuldades na correcção e/ou fluência na leitura de palavras e por baixa competência leitora e ortográfica. Estas dificuldades resultam de um défice fonológico, inesperado, em relação às outras capacidades cognitivas e às condições educativas. Secundariamente podem surgir dificuldades de compreensão leitora, experiência de leitura reduzida que pode impedir o desenvolvimento de vocabulário e dos conhecimentos gerais.
Estudos realizados através da análise da Ressonância Magnética Nuclear funcional (RMNf) comprovam a natureza neurológica desta disfunção. Quando lêem os indivíduos disléxicos utilizam circuitos cerebrais diferentes dos que são usados pelos bons leitores. Na imagem abaixo apresentada podemos verificar quais as áreas cerebrais implicadas no processo da leitura. Quando os indivíduos disléxicos executam a tarefa da leitura estas zonas cerebrais não são activadas, daí as suas dificuldades em converter a escrita em som.

Campos de aplicação da Psicomotricidade

Hoje em dia considera-se que a Psicomotricidade abrange três campos de actuação: a reeducação psicomotora, a terapia psicomotora e a educação psicomotora.
A Terapia Psicomotora dirige-se a indivíduos que apresentem incapacidades psicomotoras, nomeadamente as derivadas de lesões cerebrais, congénitas ou adquiridas, agudas ou crónicas, focais ou difusas, que influenciem e limitem a capacidade psicomotora e emocional, normal dos sujeitos.
A Reeducação Psicomotora impõe-se nos casos em que predomina o défice instrumental, ou seja, o corpo pois é o primeiro e único instrumento de actuação sobre o mundo. Ao contrário da educação, a reeducação tem um carácter curativo pois aplica-se a indivíduos com dificuldades.
A Educação Psicomotora prevê a optimização do potencial do indivíduo. Pretende dar uma formação de base que procura responder a uma finalidade, por um lado visa assegurar o desenvolvimento funcional tendo em conta as capacidades da criança e por outro lado pretende facilitar a expansão e o equilíbrio da afectividade através do intercâmbio humano. Apresenta um carácter preventivo. Esta vertente de intervenção é aquela que apresenta um maior potencial para combater as Dificuldades de Aprendizagem.

Competências do Psicomotricista

O Psicomotricista enquanto profissional deve possuir algumas competências que se prendem com a avaliação e diagnóstico do perfil e desenvolvimento psicomotor; domínio de modelos e técnicas de habilitação e reabilitação psicomotora em populações especiais ou de risco; prescrição, planeamento, avaliação, implementação e reavaliação de programas de Psicomotricidade; formação, supervisão e orientação de outros técnicos; consultadoria e organização de serviços vocacionados para a Psicomotricidade; elaboração de propostas de adaptações envolvimentais susceptíveis de maximizarem as respostas reeducativas ou terapêuticas decorrentes da intervenção directa. É importante que o Psicomotricista possua algumas características, tais como criatividade, imparcialidade, honestidade, empatia, segurança, intuição, paciência, imaginação, liberdade emocional, capacidade de se relacionar, tolerância, flexibilidade, receptividade, capacidade e disponibilidade para trabalhar com o corpo em movimento, expressividade e compromisso. Estas características são essencias no estabelecimento da relação entre o paciente e o profissional e permitem que este desempenhe melhor as suas funções.

Factores Psicomotores

O desenvolvimento psicomotor abrange o desenvolvimento funcional de todo o corpo e suas partes. Geralmente este desenvolvimento está dividido em vários factores psicomotores que são interdependentes e se desenvolvem de forma hierárquica, desta forma o comprometimento de um deles irá influenciar o correcto desenvolvimento dos seguintes.
Segundo Fonseca, estes factores são 7: a tonicidade, o equilíbrio, a lateralidade, a noção corporal, a estruturação espácio-temporal e praxias global e fina.   
A tonicidade indica o tónus muscular. Tem um papel fundamental no desenvolvimento motor, é ela que garante as atitudes, a postura, as mímicas, as emoções, de onde emergem todas as actividades motoras humanas.
O equilíbrio reúne um conjunto de aptidões estáticas (sem movimento) e dinâmicas (com movimento), abrangendo o controlo postural e o desenvolvimento das aquisições de locomoção. O equilíbrio estático caracteriza-se: pelo tipo de equilíbrio conseguido em determinada posição e pela capacidade de manter certa postura sobre uma base. O equilíbrio dinâmico obtém-se com o corpo em movimento, determinando sucessivas alterações da base de sustentação.
A lateralidade é a capacidade de percepção dos lados do corpo e traduz-se pelo estabelecimento da dominância lateral da mão, olho e pé, do mesmo lado do corpo.
Esta refere-se ao espaço interno do indivíduo, de forma a que este utilize um lado do corpo com maior agilidade. Ocorre inúmeras vezes a confusão entre lateralidade e noção de direita e esquerda relacionada com o esquema corporal. A criança pode ter a lateralidade adquirida, mas não saber qual é o seu lado direito e esquerdo, ou vice-versa.
A noção do corpo é definida como a formação do "eu", isto é, da personalidade. Este factor psicomotor compreende o desenvolvimento da noção ou esquema corporal, através do qual a criança toma consciência de seu corpo e das possibilidades de expressar-se por seu intermédio. Ajuriaguerra refere que a evolução da criança é sinónimo de consciencialização e conhecimento cada vez mais profundo do seu corpo. É através dele que a criança elabora todas as experiências vitais e organiza toda a sua personalidade.
A estruturação espácio-temporal decorre como organização funcional da lateralidade e da noção do corpo, uma vez que é necessário desenvolver a consciencialização espacial interna do corpo antes de projectar o referencial somatognósico no espaço exterior.
Este factor emerge da motricidade, da relação com os objectos localizados no espaço, da posição relativa que ocupa o corpo, ou seja, este estabelece as múltiplas relações integradas da tonicidade, do equilíbrio, da lateralidade e do esquema corporal.
A estruturação espacial leva a tomada de consciência pela criança, da situação de seu próprio corpo em um determinado meio ambiente, permitindo-lhe consciencializar-se do lugar e da orientação no espaço que pode ter em relação às pessoas e objectos.
A estruturação temporal compreende a capacidade de uma pessoa se situar em função da sucessão de acontecimentos e da duração dos intervalos, que são noções abstractas e difíceis de adquirir pelas crianças.
Praxia refere-se a um movimento intencional, harmonioso, organizado e planificado tendo em vista a obtenção de um fim ou de um resultado determinado.
A praxia global está relacionada com a realização dos movimentos globais complexos, que se desenrolam num determinado tempo e que exigem a actividade conjunta de vários grupos musculares.
Por último, a praxia fina compreende todas as tarefas motoras finas, onde associa a função de coordenação dos movimentos dos olhos durante a fixação da atenção e manipulação de objectos que exigem controlo visual, além de abranger as funções de programação, regulação e verificação das actividades preensivas e manipulativas mais finas e complexas. Para que a preensão do lápis seja adequada e o movimento da escrita seja harmónico e coordenado é necessário que este factor se desenvolva de forma correcta.

Psicomotricidade

A Psicomotricidade pode ser definida como o campo transdisciplinar que estuda e investiga as relações e as influências recíprocas e sistemáticas entre o psiquismo e a motricidade do ser humano. A Psicomotricidade é vista como a concepção do movimento organizado e integrado em função das experiências vividas pelo sujeito cuja acção é resultante da sua individualidade, linguagem e socialização. A Psicomotricidade é o corpo em movimento, encarando o ser humano de forma holística.
A Psicomotricidade enquanto prática unificadora pretende:
  • Favorecer o desenvolvimento global (aspectos motores, emocionais, cognitivos e sociais), o bem-estar e a qualidade de vida;
  • Detectar as dificuldades de aprendizagem;
  • Estimular o desenvolvimento psicomotor;
  • A realização da criança enquanto pessoa;
  • Mobilizar e organizar as funções psíquicas, emocionais e relacionais;
  • Aperfeiçoar a conduta consciente e o acto mental;
  • Harmonizar e maximizar o potencial motor, afectivo-relacional e cognitivo;
  • Promover movimentos funcionais e expressivos;
  • Compensar problemáticas situadas na convergência do psiquismo e do somático;
  • Promover a regulação e a harmonização tónica;
  • Possibilitar a vivência das relações tónico emocionais relacionais;
  • Desenvolver os factores psicomotores;
  • Atingir as funções cognitivas através do movimento.
A Psicomotricidade é hoje concebida como a integração superior da motricidade, produto de uma relação inteligível entre a criança e o meio, instrumento privilegiado através do qual a consciência se forma e se materializa.

                          Psicomotricidade é CORPO, ACÇÃO e EMOÇÃO!

Deixo-vos agora este vídeo com algumas definições de Psicomotricidade feito por alunos do curso de Reabilitação Psicomotora e que pretende divulgar a nossa área de intervenção... Espero que ajude a compreenderem melhor a nossa área de intervenção!




quinta-feira, 28 de abril de 2011

Dificuldades de Aprendizagem

Ao longo do tempo foram surgindo várias definições de Dificuldades de Aprendizagem, no entanto aquela que actualmente reune mais consenso foi proposta pelo National Joint Committee on Learning Disabilities (NJCLD) em 1994. A definição do NJCLD diz o seguinte: "Dificuldades de aprendizagem é um termo genérico que diz respeito a um grupo heterogéneo de desordens manifestadas por problemas significativos na aquisição e uso das capacidades de escuta, fala, leitura, escrita, raciocínio ou matemáticas. Estas desordens, presumivelmente devidas a uma disfunção do sistema nervoso central, são intrínsecas ao indivíduo e podem ocorrer durante toda a sua vida. Problemas nos comportamentos auto-reguladores, na percepção social e nas interacções sociais podem coexistir com as dificuldades de aprendizagem, mas não constituem por si só uma dificuldade de aprendizagem. Embora as dificuldades de aprendizagem possam ocorrer concomitantemente com outras condições de discapacidade (por exemplo, privação sensorial, perturbação emocional grave) ou com influências extrínsecas (tal como diferenças culturais, ensino inadequado ou insuficiente), elas não são devidas a tais condições ou influências."